Pois é, é Copa.
Há algum tempo queria falar alguma coisa sobre isso, mas (a) estava sem muito tempo e, em decorrência disso, (b) as idéias até que vinham mas não conseguia concatená-las direito.
Quando se fala em Copa do Mundo, sou insuportavelmente chato (vejam só o pleonasmo!): não me empolgo com os jogos da Seleção Canarinho, acho um absurdo enquanto o mundo explode com notícias sobre política, sobre economia e tudo mais, o ser chamado Televisão só anuncia coisas da copa. E o que é pior (ou até mesmo se poderia considerar lógico), só falam do Ronaldinho dentes-de-sabre e do Ronaldo ex-gordo. Não existe outro assunto!
E haja matérias como "o dia da seleção", "as comemorações da seleção", "o machucado de Ronaldo", "os dribles de Robinho", "o esquema tático de Parreira".
E é incrível como o mundo pára para ver os jogos da Seleção Canarinho. Aqui em São Luís, os órgãos administrativos e judiciais não vão funcionar e as empresas que não contratram telões para a exibição dos jogos, vão liberar os funcionários mais cedo.
E não me venha com a velha história "o povo brasileiro é tão sofrido que merece uma alegria, um motivo de destaque no cenário mundial". Grandes mer... porcarias! O Brasil é cinco vezes campeão e seu principal rival é a Argentina (até hoje não sei o porquê). E todo mundo se orgulha com isso, mas a Argentina possui entre seus conterrâneos cinco detentores do Prêmio Nobel. Mas o que importa é que o Brasil "traga o hexa".
Na última Copa, em 2002, foi o ano que estava no último ano da faculdade e estava estagiando em uma empresa. O horário de expediente começava às 7 h. Como os jogos eram de madrugada, o horário era estendido para às 8 h. ou até mesmo às 9 h., mas quem disse que eu acordava para assistir os jogos? O pessoal aqui da minha rua levantavam-se bem cedo e iam assistir ao jogo na casa de um vizinho. Creio que as únicas pessoas que continuavam com seus sonos eram eu e mamãe.
Quando vejo esse negócio de Copa, sempre me lembro de duas coisas:
1. Uma sátira que o Casseta e Planeta (na época em que eles ainda eram engraçados) fez depois que a Seleção Canarinho conquistou o famoso tetra-campeonato em 1994. Aparecia uma cena lá nos Estados Unidos de um grupo de brasileiros comemorando, chorando, gritando e, no meio deles, estava um dos (então denominados) humoristas falando algo do tipo "somo tetra-campeões. Somo felizes agora. Não existe mais inflação, não tem mais brigas de ruas nem assaltos. Viramos primeiro-mundo".
2. A outra coisa é a música do Chico Buarque "Vai Passar" na qual ele falando de outra festa diz,
"Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
(...)
Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes
Erguendo estranhas
catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma
alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)".
Vai pasar!
Um comentário:
É muito sério o que vc escreveu. Sério por que é a pura verdade. O Brasil simplesmente pára.
Acho que não deveria ter esse negócio de empresas não funcionarem, empregados serem liberados mais cedo e coisas do gênero.
E ainda dizem que vivemos num país capitalista. Onde, meu Deus?
Vou confidenciar algo pela primeira vez a alguém além da patroa: Eu não assisti a final que deu o Penta ao Brasil. E não me arrependo.
Mas não posso dizer que não me interesso por futebol. De alguma forma esse verdadeiro ópio (acho que tá mais pra ecstasy) do povo - que é o futebol - se impregnou na cultura que é quase impossível se desvencilhar dessa maré de Copa.
Precisamos urgentemente de Prêmios Nobel e menos taças de Copas do Mundo.
Abraço!
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