Último ano da faculdade: monografia (orientador mandando eu ler quatro livros sobre Aristóteles - um deles em francês - para eu mudar o capítulo 1.4 da minha monografia... e olha que eu não uma palavra em fracês); exame da OAB; correria para terminar o curso; ano de mudanças significativas na minha vida; relatório de estágio para entregar; propaganda eleitoral e (quase) todo mundo acreditando nas mudanças positivas que sr. Luis Inácio iria trazer ao nosso país.
Foi nesse cenário que foi instalada em minha casa a tv a cabo (e isso me lembra o grande Otto, "acabo de comprar uma TV a Cabo... Acabo de entrar na solidão"). Primeiro canal que me simpatizei: Cartoon Network.
(E isso me lembra uma coisa que aconteceu comigo hoje: estava nas Lojas Americanas e reencontro um casal de amigos. Estava na seção de brinquedos quando ouço "Thales?". Vejo uma amiga minha da Igreja. "Oi, há quanto tempo!" - disse eu. "Nossa... eu e o Jorge - o marido dela - ficamos vendo e duvidando se eras tu... meu Deus, como tu estás magro!" - disse ela. "A gente ficou na dúvida... mas quando eu vi que era um cara de terno na seção de brinquedos... só podia ser tu mesmo" - disse o Jorge)
(Credo... isto aqui tá parecendo "meu diário"... sorry... back to my post)
Era uma época muito boa: Eu sou o Máximo; Meninas Super-poderosas; O Laboratório de Dexter; Coragem, o cão covarde; A Vaca e o Frango; Johnny Bravo; Du, Dudu e Edu e até mesmo Mike, Lu e Ogg; Sheep na Cidade Grande. Uns desenhos muito bons mesmos, mas a programação começou a mudar.... substituíram esses maravilhosos desenhos por coisas intragáveis como "A Turma do Bairro"; "Hi, Hi Puff Ami Yumi" (meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?); "O que há de novo, Scooby-doo?" e outra coisas que não me lembro (ainda bem).

Por que eles - os novos desenhos - são intragáveis e qual é o motivo deste post? Primeiro, porque são voltados exclusivamente para o público infantil mesmo... para crianças que gostam ser os melhores em tudo, para crianças que querem ter tudo e não estão muito a par do que acontece com o mundo em volta e não se preocupam muito com o "outro". Isso pode ser observado claramente na "Turma do Bairro" em que as criacinhas são rebeldes, constroem coisas maravilhosas e não concordam em serem submetidas ao "regime ditadorial dos adultos" e, além disso, não precisam de mais ninguém: se existir algum adolescente, este deve ser eliminado.... é um desenho sem muito conteúdo. As crianças se divertem à moda "pão e circo": apenas com os efeitos que as armas causam nos outros.
E nisso reside a grande diferença com desenhos como "O Laboratório de Dexter" e, principalmente, "Sheep na Cidade Grande". No primeiro, a gente se diverte não pelas invenções que o Dexter faz (sinceramente, se fosse por isso, eu não agüentaria assistir, porque o Dexter é uma personagem muito mimada e arrogante), mas por inúmeras referências a músicas, filmes, hqs e outros desenhos. Tem um episódio divertidíssimo em que a Dee Dee - irmã mais velha do Dexter - tenta pintar o laboratório de rosa, enquanto ele quer a cor branca. Disso, decorre uma espécie de "disputa" para ver quem consegue deixar o Laboratório com a cor de sua preferência. E onde está a diversão nisso? O desenho todo é mudo, com um blues tocando no fundo... nesse desenho, a própria Dee dee é toda rosa, enquanto o Dexter é todo branco. Ela sempre anda de forma maliciosa, malandra, enquanto ele anda todo tempo nervoso em uma explícita referência aos desenhos clássicos da Pantera Cor-de-rosa. É um desenho com conteúdo... no qual a gente ri de uma forma inteligente.
Por falar nisso, existe um episódio - que até hoje, tento achar na net - das Meninas Super-poderosas chamado "Meet The Beat Alls". O Macaco Louco, o Fuzzy Confusão, a Princesa e o Ele se reúnem para destruírem as meninas. Eles se reúnem em um quarteto chamado "Beat Alls". O filme inteiro é baseado em músicas dos Beatles: as falas das personagens, determinadas situações (como em uma parte em que os "Beat Alls" estão "jogando pedras do alto do telhado") e até mesmo algumas personagens (os Beatles aparecem em algumas cenas e o chefe de polícia de Townsville é o "Sargento Pimenta" que fala em uma entrevista "Socorro... preciso de alguém! Não apenas um alguém! Socorro...").

Os diálogos, as referências são maravilhosas (existe um episódio em que o General Específico fala que é impossível clonar carneiros! "Todo mundo sabe disso!" em uma clara referência à Dolly), a narrativa do desenho é bem peculiar: existe um narrador que apresenta os espisódios em forma de um programa. E, dessa forma, existe intervalo no próprio desenho. Nesses intervalos - e aí reside momentos que até hoje me fazem rolar de rir - existe propagandas da grande empresa Oxymorom - que é um "jogo de palavras", pois Oxymorom, em inglês, significa uma figura de linguagem em que o substantivo é adjetivado por uma palavra que significa exatamente o oposto do substantivo - que produz de sacos plásticos a robôs... tudo com "um toque de um boi" (e Ox, em inglês, é boi)... são momentos peculiares e hilários como "Brilhosina" (um produto secreto usado nos xampus da Oxymorom), "O Ensacador Plástico Automatizado", além de outras "propagandas" como "Minha voz é muito alta" (My voice is so high, propaganda na qual aparece um cara cantando bem alto e com uma vez extremamente fina, my voice is so hiiiiigggghhhhhh).
Poi zé... os desenhos de hoje estão sem conteúdo.... e uma coisa me intriga... o mesmo criador de "A Turma do Bairro" é o de "Sheep na Cidade Grande". Será que ele foi para o lado negro da força? Força capitalista... que prefiriu o dinheiro (desenho facilmente palatável) a arte (desenho com conteúdo no qual a gente se divertia por causa não das "atrapalhadas", mas da forma inteligente que era demonstrado na tela)?
Nossa... eu falando de desenhos!
;)
3 comentários:
CARA!!! MUITO BOM ESSE POST! Há algum tempo eu estava querendo falar dos novos cartoons que estão na "moda" em contraste com a febre japanimation que tá rolando no mundo todo.
Vc foi no ponto!
Viva aos bons cartuns!
Ps.: Dá uma olhada na página 3 do "Segundo Caderno" de "O Globo" de hoje. Tom & Jerry teve cenas cortadas na mídia britânica.
Querem acabar com os desenhos!!!
Abraço!
Eu queria muuuuuuuuuuuito assistir novamente o comercial da brilhosina.... pena que nunca mais passou!
Pois é, os desenhos da atualidade são péssimos, e pelo jeito é capaz de piorarem cada vez mais. Os desenhos foram bons até 2005, depois disso só surgiu lixo, com exceção de alguns desenhos bons que raramente aparecem.
Uma coisa: na verdade, o criador de Sheep na Cidade Grande não é o mesmo de KND - A turma do Bairro. O criador de Sheep na Cidade Grande, Mo Williens, é amigo do criador de KND - A Turma do Bairro, Tom Warburton. Mo Williens trabalhou na produção de KND - A Turma do Bairro, mas quem criou a série foi Tom Warburton.
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