segunda-feira, março 8

Elucubrações

MInha experiência com a TV por assinatura despertou em mim um lado mais dark side e vim perceber isso esse final de semana.

Depois de um domingo desastroso, cheguei em casa por volta de 2 h. da manhã. Ainda no carro, cheguei a pensar "será que ainda está passando Cold Case na TV?", mas logo tive uma resposta minha: "o que importa? amanhã vai passar um episódio novo e se eu quiser assistir, coloco nas reprises durante a semana". Estava me referindo ao fato de que eu podia assistir no canal Warner a hora que eu quisesse. Aí que está o problema - ao menos para mim.

A TV por assinatura me tirou uma sensação que me acompanhou por muito tempo: a sensação de falta. Como era (ainda é) gostoso ficar acordado até tarde, assistindo com a minha esposa na sala escura aos espisódios de Cold Case que passam no SBT por volta de 1h. da manhã de domingo. Tinha toda uma sensação, cheiro, calor, preocupação de ir deitar para acordar cedo no dia seguinte e se dormisse perguntar para a minha eposa no dia seguinte "e aí, quem era o assassino?".

Da mesma forma, a internet me tirou também uma sensação de falta meio infantil. Se eu quiser alguma música, baixo na internet. A coleção completa dos Rolling Stones? do Beatles? O novo disco do Belle and Sebastian? Tá tudo lá (aqui) na internet. Na minha infância, ficava grudado o dia inteiro na rádio, com a fita cassete no ponto, com os botões REC e PAUSE pressionados para quando passasse a música, bastava liberar o PAUSE e pronto. São várias as sensações que vem a mente agora... lembro-me que quando tinha por volta dos 13 anos, tinha uma revista do Pink Floyd que contava a história da banda e tinha as letras traduzidas: um verdadeiro tesouro que guardo com muito carinho até hoje, mas que, em comparação com o poder de informações da Internet, não tem valor algum.

As fitas cassestes gravadas pelo meu amigo Gabriel... foi através delas que conheci Pink Floyd, Yes... hoje dia, basta pôr no Google e ter um cliente torrent.

Ainda vou ter vários momentos (e até mesmo outras sensações) com minha esposa, mas de agora em diante será de outra forma: "tu vistes o capítulo de Cold Case ontem?". "Não, assisti a reprise hoje". Uma conversa de duas pessoas que já sabem quem foi o assassino e que, por isso, não será mais preciso um recontar o episódio.

3 comentários:

THAÍS disse...

hehehe, eu sou uma vítima disso, entro em parafuso todas as vezes que quero assistir a um episódio (se for inédito então...), saio correndo pra ver o que a Betty vai fazer, que a Katherine mudou de time, O que a Lilly vai perguntar e que vai solucionar todo o caso, qual a nova loucura do Sheldon... enfim, sou viciada em séries assim como as donas de casa são viciadas na Ana Maria Braga e nas novelas... ADOOOOOOROOOOOOOOO!!!

Gabriel G; disse...

Rapaz, isso é uma coisa na qual eu penso muito também.
Todo o significado que minhas preciosas fitas cassetes tinham pra mim na adolecência, a revista do Pink Floyd (eu me LEMBRO de quando tu comprou-a!), o prazer/sofimento de esperar pra ver uma foto revelada... essa relação toda de suspense e preciosidade das coisas se perdeu muito.
Minha impressão nítida é a de que temos uma relação muito mais preguiçosa, despreocupada, com esses produtos culturais todos. Eu nem me dou ao trabalho de prestar atenção em álbuns e músicas mais. Simplesmente é tudo fácil demais de conseguir!

Claro, eu também não desistiria de nosso atual status internético de jeito nenhum. Como eu teria acesso, por exemplo, à discografia do Tom Zé, do Yes, da Bjork nos tempos do Sugar Cubes?

Mas é interessante poder perceber que algo se perdeu, e esse algo era uma coisa até bonita, preciosa.

Mas aí, quando eu penso nisso, percebo que que esse tipo de relação já tinha sido perdida, em outras gerações, a cada grande inovação... como a geladeira, a televisão, a oferta ridiculamente ampla de refrigerantes e brinquedos trouxeram, apesar dos ganhos imensos de conforto e possibilidade, uma perda de relações preciosas de identidade que nós, humanos tínhamos com as coisas que povoavam nossa vida...

Será essa perda a típica substituição de uma relação cada vez menos de "trabalho" (onde conseguir as coisas exige esforço, planejamento, vontade e tempo direcionados) para uma relação cada vez mais de "consumo" puro e simples?

(Enfim: um abraço!)

Gabriel G; disse...

(A propósito: vou muito bem, Thales! Valeu por aparecer lá no Wilbor. Na verdade, cheguei esta segunda-feira de uma pusta viagem, na qual fui conhecer Paris e algumas cidades da Itália com a Dani... E como vão você e a Nadja? Abração.)